A caçada terminou


Extratos bancários desmentem Maluf e Pitta e revelam movimentação bancária nos EUA e na Suíça`

A caça ao dinheiro escondido de Paulo Maluf chegou ao fim. Na semana passada, desembarcaram no Brasil 8 quilos de extratos bancários emitidos pelo Citibank de Genebra. Os beneficiários dessas contas são o ex-prefeito de São Paulo, seu filho Flávio, a filha Lina e o marido dela, Maurilio Curi. Os documentos do Citibank foram enviados pelo governo suíço, a pedido do Ministério Público paulista, que há três anos tenta provar que Paulo Maluf tem dinheiro no exterior - e que os recursos são fruto de superfaturamento de obras na última gestão de Maluf (1993-1996). Os extratos mostram uma movimentação milionária entre 1984 e 1997. Depois disso, tudo foi transferido para a Ilha de Jersey, paraíso fiscal do Canal da Mancha, onde os Malufs têm cerca de US$ 200 milhões bloqueados. O ex-prefeito sempre negou ser titular de contas fora do país - e esse foi seu grande truque. Nos paraísos fiscais, como é o caso da Suíça, a regra é abrir conta bancária com um nome qualquer. O verdadeiro dono do dinheiro se esconde na figura do beneficiário. Parece só um detalhe, mas os advogados usam a confusão entre titular e beneficiário para embaralhar processos nos tribunais. Com a chegada dos extratos, a avaliação no Ministério da Justiça é de que desta vez a documentação compromete irremediavelmente Maluf. Os promotores Sílvio Marques e Sérgio Sobrane acreditam que será possível processá-lo por improbidade administrativa e pedir a devolução do dinheiro aos cofres da capital paulista.

Investigação do Banestado permitiu unir pontas do propinoduto


Maluf já foi acusado muitas vezes de envolvimento com corrupção, mas até hoje só foi condenado a devolver o dinheiro que gastou na compra dos carros com que presenteou os jogadores da Seleção Brasileira de Futebol, tricampeões do mundo em 1970. Na ocasião, era prefeito biônico de São Paulo. Durante a ditadura militar também foi presidente da Caixa Econômica Federal e governador nomeado de São Paulo. A partir de 1982, disputou dez eleições. Venceu apenas duas: em 1982, para deputado federal, e em 1992, para prefeito. Em 1985, brigou com os militares para concorrer à Presidência da República, mas foi derrotado por Tancredo Neves.

''Maluf herdou o populismo paulista do (ex-governador) Adhemar de Barros e do (ex-presidente) Jânio Quadros'', diz o cientista político Amaury de Souza. ''Ele combina a imagem de grande tocador de obras com o tratamento agressivo da segurança pública.'' Mesmo assim, não escapou de ver o sobrenome associado à corrupção. Nos anos 80, ''malufar'' era sinônimo de roubar. Seus próprios eleitores dizem, com orgulho, que ''Maluf rouba, mas faz''