Hipocondríaco

Não tem nada pior do que ser hipocondríaco num país que não tem remédio.

Eu tomo um remédio para controlar a pressão. Cada dia que eu vou comprar o dito cujo, o preço aumenta. Controlar a pressão é mole. Quero ver é controlar o preção. Tô sofrendo de preção alto.

O médico mandou cortar o sal. Comecei cortando o médico, já que a consulta era salgada demais.

Controlei também a alimentação. Como a única coisa que tenho comido, depois do Fome Zero, é minha patroa, não tem perigo.

Para piorar, acho que to ficando meio esquizofrênico. Sério! Não sei mais o que é real. Principalmente quando abro a carteira ou pego extrato no banco. Não tem mais nenhum real.

Sem falar na minha esclerose precoce. Comecei a esquecer as coisas. Sabe aquele carro? Esquece! Aquela viagem? Esquece! Tudo o que o barbudo prometeu? Esquece!

Podem dizer que sou hipocondríaco, mas acho que tô igual ao time do
Botafogo: nas últimas.

Bem, brasileiro é assim mesmo, já nem liga mais para bala perdida. Entra por um ouvido e sai pelo outro.