Deslocado em Cannes, "Shrek 2" tem mais aplausos até agora

Por: Sérgio Dávila
Provocação e mercado. Não há outra justificativa para um filme como "Shrek 2" estar na competição da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2004. OK, é uma grande comédia, conforme comprovou a platéia que assistiu ao filme na manhã de sábado, que coroou a sessão com os maiores aplausos até agora.

Mas, do presidente do júri, Quentin Tarantino, ao diretor artístico do festival, Thierry Fremaux, passando pelo Ogro e o Burro, será que alguém realmente acha que o longa do estúdio Dreamworks vai levar a Palma de Ouro para casa? Em 2001, "Shrek 1" pelo menos tinha o ineditismo de ser a primeira animação a competir em 50 anos de Cannes; já "Shrek 2", apesar de ser o primeiro filme do festival a ter sua continuação também na competição, nem a única do evento é, pois divide as atenções com "Ghost in the Shell 2 - Innocence", do japonês Oshii Mamoru.

A explicação? Provocação de Fremaux, certamente, que montou o festival mais pop e iconoclasta dos últimos tempos. Mas também mercado, mercado, mercado. "Shrek 1" faturou US$ 260 milhões só nos EUA, US$ 475 milhões no mundo todo. Desde então, a DreamWorks de Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg firmou-se como a única capaz de desafiar a hegemonia da Disney no gênero. Tanto que já prepara "Shrek 3" para 2006 e "Shrek 4" para o fim da década e aceitou pagar a Myers, Eddie Murphy e Cameron US$ 10 milhões cada um só pelo uso da voz deles na seqüência, um valor sem precedentes nesse setor.

"Nunca houve período melhor para a animação do que hoje em dia", entusiasma-se Katzenberg, diretor do setor de animação do estúdio que bancou ainda os ótimos "Formiguinhaz" (1998) e "A Fuga das Galinhas" (2000).

E o filme em si? É hilariante, como o primeiro. Tem dezenas de referências, de filmes, de programas de TV e mesmo da vida dos artistas envolvidos na produção, e sacaneia com meio mundo de Hollywood. Começa com um Príncipe Encantado (voz de Rupert Everett), desatualizado, indo salvar Fiona (Cameron Diaz) no castelo e encontrando na torre o Lobo Mau transformista deitado lendo a revista "Pork Ilustrated".

Daí para a frente, é pelo menos uma boa risada por página de roteiro, que é mais do que a média das sitcoms das TVs consegue. Shrek (Mike Myers) e Fiona vão visitar o Reino Muito Muito Distante, na verdade uma Hollywood medieval, que tem até o famoso letreiro na montanha escrito "Far Far Away". As ruas lembram Beverly Hills, com lojas como "Versachery" e "Barneys Old York".

Lá, conhecem os pais de Fiona, que são a rainha e o rei (vozes de Julie Andrews e John Cleese) de Muito Muito Distante; este não aceita o casamento e tenta sabotá-lo com a ajuda da Fada Madrinha (a sensacional Jennifer Saunders, a Edina de "Absolutely Fabulous"), que quer emplacar seu filho, o obnóxio Príncipe Encantado, no lugar do ogro.

Além dos acima, surge um novo personagem, o Gato de Botas, cuja voz espanholada de Antonio Banderas só faz ficar mais engraçado. Tem ele, Shrek e o Burro (Eddie Murphy) sendo presos ao vivo na TV, num programa que imita "Cops" (no caso, "Knights", cavaleiros) e que dá um close no Gato na hora em que é encontrado um pacote de "catnip".

Tudo excelente de novo, mas não era o caso de estar de novo em Cannes.
Fonte: UOL Cinema