Diários de Motocicleta" faz sucesso em Cannes

Por: Rubens Ewald Filho
"Diários de Motocicleta" foi o filme mais aplaudido até agora pela imprensa em Cannes. Teve também o maior número de aplausos numa entrevista coletiva no Festival 2004 (numa sala com todos os jornalistas brasileiros, os principais jornalistas do mundo e toda a cobertura das televisões). E para não dizer que é chauvinismo, ao meu lado, na sala de imprensa, um correspondente internacional começa seu texto assim: "Walter Salles é o homem do momento em Cannes".

A recepção positiva que "Diários de Motocicleta", em cartaz no Brasil, teve no festival não lhe garante uma premiação, já que sua temática política e latina tem pouco a ver com o presidente do júri, Quentin Tarantino. Mas há outro lógica em jogo: acontece que o festival anda muito fraco, pior mesmo que no ano passado, quando foi considerado o pior de todos os tempos. Então isso abre chances para o filme de Salles, que certamente estará entre os três ou melhores do Festival. E, graças ao aspecto nostálgico de Che Guevara -afinal, um ícone revolucionário que todo mundo venera e a esquerda francesa idolatra, talvez mesmo porque tenha morrido cedo e não tenho virado um ditador como Fidel Castro-, certamente o filme terá prêmios de critica.

Embora eu faça restrições ao filme (coadjuvante melhor do que o ator que faz Che, pouca presença da América Latina, visual medíocre, falta de conflitos), ele certamente foi muito bem aceito pelos jornalistas, que nem sequer perguntaram sobre o fato de que Robert Redford assina como um dos produtores e que aplaudiram muito e com alegria a presença do amigo de Guevara, Alberto Granado, sempre uma simpático e venerável.

Na entrevista coletiva, Walter Salles confirmou sua presença elegante e educada, respondendo em francês (um pouco em espanhol, um pouco em português por insistência da Radio France e da BBC inglesa). Estava cercado por Gael García Bernal (que mais parecia um Hobbit), o roteirista porto-riquenho José Riveira, o ator Rodrigo de la Serna e a mocinha do filme, a argentina (e linda) Mia Maestro. E Granado encerrou sua participação citando Violeta Parra: "Gracias a la vida, que me a dado tanto!".

Waltinho admitiu que cortou dois ou três minutos do filme depois de sua apresentação oficial em Sundance. Aliás, há uma outra história, fora os méritos do filme, que pode explicar por que "Diários" pode ser premiado em Cannes. O filme estava previsto para concorrer no Festival de Berlim em fevereiro, quando Salles o retirou -fez apenas uma exibição fora de concurso-, causando problemas para o evento, já que o programa oficial já estava impresso e teve de ser modificado. Tudo isso porque Cannes confirmou o convite para o filme. E, como se sabe, Cannes é mais importante do que Berlim, onde Salles já ganhou um Urso de Ouro.
Fonte: UOL Cinema