Estréias desta sexta-feira nos cinemas de São Paulo

O Dia Depois de Amanhã faz congelar o planeta Terra
O Dia Depois de Amanhã parece resultado de uma colaboração entre Michael Moore e Irwin Allen: é um misto curioso de história sociopolítica e filme de catástrofe. A história é completada com efeitos especiais da mais alta qualidade e o tipo de diálogo que aparece inevitavelmente nessas produções.

Tudo o que o produtor Irwin Allen precisou para fazer o público tremer nas bases foram navios afundados (O Destino do Poseidon), arranha-céus em chamas (Inferno na Torre) ou abelhas assassinas (O Enxame). Em O Dia Depois de Amanhã, porém, o diretor Roland Emmerich vai muito além, na medida em que apresenta nada menos do que um iminente congelamento do planeta Terra inteiro, em consequência do aquecimento global.

Diante do clima político internacional vigente, sem falar na onda atual de desastres naturais ocorrendo perto de nós, será que o público vai se dispor a sair de casa para enfrentar a visão de partes do país sendo totalmente devastadas? Seja como for, a mãe natureza pode ser a verdadeira estrela do filme, mas Dennis Quaid está a postos para proporcionar o elemento humano confiável na figura de Jack Hall, um meteorologista cujas pesquisas sobre o aquecimento global o levam a crer que uma mudança catastrófica no clima mundial pode acontecer muito antes do que vinha sendo previsto.


O Herói da Família reconta clássico de Charles Dickens
O Herói da Família, de Douglas McGrath, é baseado no livro Nicholas Nickleby, de Charles Dickens. Fica claro que o filme é trabalho de um diretor que ama Dickens e seus personagens coloridos, sua preocupação social e, especialmente, a manipulação emocional presente nas tramas longas e complexas do escritor britânico do século 19.

McGrath conseguiu reduzir os personagens e episódios do livro a uma versão cinematográfica razoavelmente enxuta. É uma história sólida e bem contada, mas, por alguma razão, o filme não é muito instigante. A história de Dickens trata da luta de um jovem de ética incorruptível para proteger sua família de um tio imoral e um mundo cruel.

Histórias Mínimas coloca seus personagens na estrada
Um velho à procura de seu cão que fugiu, uma jovem mãe pobre escolhida para participar de um programa de televisão e um vendedor apaixonado - são esses os personagens cujos caminhos se cruzam em Histórias Mínimas, um road movie simpático e singelo do cineasta argentino Carlos Sorin.

Exibido na competição do Festival Internacional de Cinema Latino de Los Angeles, este ano, o trabalho poético da Guacamole Films percorre uma distância considerável com seu humor sensível e gentil e as atuações atraentes de seu elenco, formado em boa parte por atores não profissionais.

Longos trechos de rodovia vazia separam os três personagens de seu destino comum: a cidade de San Julián, no sul da Patagônia. É lá que o aposentado Don Justo (o ator amador Antonio Benedictis) espera encontrar seu cachorro há muito tempo perdido.


Filme de Amor reinventa mito das Três Graças
O diretor Julio Bressane impôs o seu rigor experimentalista em Filme de Amor e mostrou que continua fiel a si mesmo. Seu estilo combina um experimentalismo fluido na linguagem para poder comportar as inúmeras citações literárias e pictóricas que tanto lhe agradam, bem como a alternância de texturas e cores. A riqueza visual é aqui comandada pelo consagrado diretor de fotografia Walter Carvalho (de Abril Despedaçado, Lavoura Arcaica e tantos outros).

Bressane trabalha pela terceira vez com o ator Fernando Eiras (escalado antes em O Mandarim e Dias de Nietzsche em Turim). Ele é um dos três protagonistas, ao lado de duas atrizes de teatro que estréiam no cinema, Bel Garcia e Josie Antello.

O trio encarna uma livre reinterpretação do mito das Três Graças, onde Bressane toma a liberdade de transformar uma delas num homem (Eiras), já que originalmente eram todas mulheres (Tália, Abigail e Eufrosina, representando o amor, a beleza e o prazer).


Fernanda Montenegro brilha em O Outro Lado da Rua
O longa-metragem de estréia de Marcos Bernstein, O Outro Lado da Rua, é carregado de ótimas credenciais, não só as suas, como co-roteirista de Central do Brasil e Terra Estrangeira, mas também de um elenco de atores como Fernanda Montenegro, Raul Cortez e Laura Cardoso.

Atriz mítica, Fernanda Montenegro contém sua presença poderosa na tela, confinando-a aos limites de Regina, a protagonista sexagenária. Sozinha num apartamento de Copacabana, bairro repleto de idosos, ela mora apenas com o cachorro.

No dia-a-dia, pouco rompe a estreiteza de seus contatos humanos, mantidos ainda mais enxutos por sua opção (nunca explicada) em não mais falar com o ex-marido, que vive com o filho. No máximo, às vezes vai buscar o neto na escola, entregando-o na porta do apartamento que ela nunca visita.

Nos contornos de credibilidade definidos por Fernanda, essa Regina nunca parece menos do que humana, por mais exóticas que pareçam suas opções. Espiã habitual da vida alheia com um inseparável binóculo, com a desculpa de um mandato como informante ocasional da polícia, uma noite ela julga ver um vizinho do prédio da frente (Raul Cortez) assassinando a própria mulher com uma injeção. Aí começa a grande história de sua vida e do filme.