Estréia da semana nas telonas

Documentário eterniza gênio do rei do futebol
É preciso ser completamente imune à paixão do futebol - coisa rara nesta nação de chuteiras - para não experimentar nenhuma emoção diante das imagens preciosas do documentário Pelé Eterno. A coleção de gols recolhida pela pesquisa de cinco anos em dezenas de arquivos em todo o mundo balança o coração mais renitente - especialmente quando mostra imagens das Copas do Mundo de 1958 e 1970.

O gênio de Pelé, no arranque, no drible e na finalização de seus 1.281 gols é visto numa fantástica amostragem. Nesses lances está a mais pura expressão do futebol-arte, cuja mais completa tradução foi sempre o único rei que o Brasil aceita sem maiores contestações.

Nesse fantástico túnel do tempo montado pelo filme, dirigido por Aníbal Massaini Neto, acompanha-se a irresistível ascensão do garoto franzino de 17 anos que, em 1958, desmaiou logo após um gol decisivo para a primeira Copa vencida pelo Brasil, dando início a uma carreira vitoriosa de 21 anos, 59 campeonatos, entre outras glórias.


Tom Hanks está na refilmagem de Matadores de Velhinha
Matadores de Velhinha representa a primeira tentativa dos irmãos Ethan e Joel Coen de fazer uma refilmagem - e o filme escolhido não foi fácil. A versão original de 1955 de The Ladykillers (no Brasil, O Quinteto da Morte) é uma das jóias da comédia britânica. O filme foi feito nos estúdios Ealing, cujas comédias eram célebres pelos fatos bizarros que sempre pareciam acontecer em ambientes domésticos comuns, observados de perto.

Infelizmente, a dificuldade de equiparar-se à precisão ímpar do original e a sua maluquice sufocada se revela em cada quadro de Matadores de Velhinha. Enquanto as melhores comédias dos irmãos Coen se destacam por seus tons, dicção, atitude e ritmos visuais finamente sintonizados, tudo em Matadores de Velhinha passa a impressão de estar fora dos eixos.

Com Tom Hanks em uma das atuações menos evidentes de sua carreira e uma série de outros atores que parecem exagerar na caracterização de seus personagens, o filme não chega a situar-se claramente em termos cômicos. É claro que a simples presença de Tom Hanks no elenco vai garantir uma bilheteria boa, pelo menos inicial.


Histórias de Cozinha é comédia sobre história absurda
No engraçadíssimo Histórias de Cozinha, o diretor norueguês Bent Hamer parte de uma premissa já inspirada e a transforma em uma comédia absurda que consegue passar muito calor humano com sua história sobre a luta entre a ciência e a natureza humana. É uma combinação irresistível de arte e coração, algo que tem tudo para garantir ao filme um público razoável entre os cinéfilos de arte.

O filme começa em registro de documentário, mostrando o trabalho de especialistas, no pós-2a Guerra Mundial, para levar uma precisão digna de linha de montagem à cozinha da dona-de-casa sueca média dos anos 1950.

Como diz um anúncio de cozinha da época, com um pouco de reorganização simples de seu trabalho, em lugar de a dona-de-casa sueca ter que caminhar a cada ano uma distância equivalente à que separa a Suécia do Congo, apenas para colocar comida na mesa da família, ela poderá andar apenas a distância até o norte da Itália.


Pierce Brosnan e Julianne Moore fazem Leis da Atração
Leis da Atração é uma comédia romântica sobre advogados que são marido e mulher e se enfrentam em lados opostos no tribunal. Mas o filme não é nenhum A Costela de Adão, um dos trabalhos antológicos de Spencer Tracy e Katharine Hepburn. O problema principal é que em nenhum momento o espectador se convence de que Daniel Rafferty (Pierce Brosnan) e Audrey Woods (Julianne Moore) são de fato um casal.

Eles nem sequer têm motivos para gostar um do outro. A única química que acontece entre os atores é do tipo explosivo, e o roteiro se dá a muito trabalho para exibir o que ambos os personagens têm de pior, em termos tanto profissionais quanto pessoais.

Esta comédia sobre opostos que se atraem tem como alvo um público mais velho, especialmente o feminino. Mas faltam sofisticação e inteligência capazes de atrai-lo em grande número.


Documentário radiografa problemas do sistema judiciário
O espaço do documentário vem aumentando no ainda reduzido circuito que exibe os filmes brasileiros. O gênero, aliás, conquista cada vez mais adeptos entre os realizadores, entre outros motivos, pelo menor custo e um discreto crescimento de interesse da parte do público, atitude sintomática num tempo em que os chamados "reality shows" ganham cada vez mais tempo na televisão.

A diretora Maria Augusta Ramos, uma brasileira radicada na Holanda que já registra alguns trabalhos premiados em seu currículo, apresenta Justiça - Um Choque de Realidade, ganhador do Grande Prêmio no Festival Internacional de Documentários Visões do Real de Nyon (Suíça).

Guta, como é conhecida, passou seis meses nos corredores da carceragem da Polinter, subordinada ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, fechando o foco quase completamente no réu Carlos Eduardo, 23 anos, e nos efeitos de sua prisão sobre sua pequena família.

Empregado de uma padaria preso por dirigir um carro roubado, já com uma passagem na polícia, Carlos é o que em jargão policial se denomina "pé-de-chinelo". Ou seja, um pequeno criminoso, de baixa periculosidade, em geral enredado no crime num contexto de baixa escolaridade e mínimas oportunidades de emprego.


Do Outro Lado da Lei é drama argentino com humor negro
Do Outro Lado da Lei é um drama argentino temperado com fortes doses de humor negro. O filme retrata o lado menos agradável da força policial de Buenos Aires e lembra sob vários aspectos os filmes policiais norte-americanos da década de 1970.

Do Outro Lado da Lei traz a história de um policial novato que, em seu trabalho, topa com tudo, desde corrupção desenfreada até uma professora de academia sexualmente voraz. O longa-metragem representa um segundo trabalho forte do diretor argentino Pablo Trapero, aclamado por seu primeiro filme, Mundo Grua.

O personagem central é Zapa (Jorge Roman), um serralheiro inexpressivo de 32 anos que, num momento de estupidez, se envolve em um roubo fracassado e acaba sendo preso. Ele é resgatado por seu tio, que possui conhecidos em muitas esferas e que não apenas consegue que Zapa seja solto da cadeia, mas também que seja contratado pelo próprio Departamento de Polícia de Buenos Aires.