Rose Bom Bom volta à ativa para unir tribos

Casa será reaberta hoje na galeria Ouro Fino, na rua Augusta, com entrada a R$ 15

O Brasil não tinha eleições diretas para presidente; os meninos brincavam com um boneco barbudo e hipermásculo, o Falcon; na TV, o palhaço Bozo era a sensação; o paralamas Herbert Vianna tinha cabelos crespinhos e usava óculos. A modelo Monique Evans, ainda não convertida a uma seita neopentecostal, era a versão parede de borracharia da outra modelo, Luiza Brunet.

Foi nesse Brasil paleolítico de 21 anos atrás que surgiu a danceteria Rose Bom Bom. É um pouco desse país que se tentará ressuscitar hoje, quando o novo Rose reabrir as portas fechadas durante 15 anos.

O local escolhido pelo empresário Angelo Leuzzi para a reestréia é a cobertura da galeria Ouro Fino (rua Augusta, 2.690, Jardins). O endereço, que abriga 110 lojas, é referência para o pessoal que adora moda. Nesse mundo, "retrô" ou "usado" recebe o nome de "vintage" e vira chique -ótimo para quem quer trazer de volta, sem parecer nostálgico, o som de Devo, B-52's, Clash ou Police (em vinil, que era o que tocava havia 20 anos; o CD só explodiria bem depois).

Como da primeira vez, Leuzzi será o DJ da casa. Ele espera repetir a química que fez do primeiro Rose um ponto de encontro de gente tão diferente quanto o herdeiro e playboy Chiquinho Scarpa, João Gordo quando era apenas o vocalista da banda punk Ratos de Porão, Monique Evans ou Renato Russo. "O Rose tinha isso: o punk moicano comendo ao lado do casal de black-tie", lembra Leuzzi.

Há 20 anos, o Rose intercalava o som das picapes com apresentações ao vivo de bandas como Titãs, Ultrage a Rigor, Plebe Rude, Engenheiros do Hawaii. No pequeno palco de apenas três metros de largura por dois de comprimento, os oito integrantes da formação original dos Titãs se acotovelavam para tocar "Sonífera Ilha", o primeiro hit. Eram duas ou três entradas de meia hora por noite, sempre encerradas com o providencial café da manhã servido para os últimos combatentes, pouco antes de a danceteria fechar.

Pulava-se do Gallery e do Victoria Pub (mais caros) para os modernos Radar Tan Tan, Madame Satã, Rose Bom Bom ou Napalm. Esses últimos eram destino de universitários depois das reuniões em que planejavam derrubar o regime.


Hoje, a noite tem programas cada vez mais segmentados, para ouvir música e dançar, incluindo alguns concorrentes diretos do novo Rose, já que especializados nos anos 80, como Autobahn (na Vila Madalena) e Trash 80's (na região central).

"Nos dias de hoje, talvez seja uma utopia reunir várias tribos de novo, mas a gente vai tentar", diz Leuzzi. Quando fechou as portas, há 15 anos, o Rose recebeu do publicitário José Zaragoza o epitáfio: "O Rose foi Bom." Ressurrecto, o Rose tem de provar que, no presente, segue bom.