As outras faces de uma superbanda

U2 by U2, autobiografia do grupo irlandês, traz histórias de bastidores e fotos raras do grupo, de moleques a quarentões

Depois dos livros 'autobiográficos' dos Beatles e dos Rolling Stones, o decano grupo irlandês U2 não resistiu e também partiu para amealhar seus trocados com um volume que considera 'definitivo': U2 by U2 (Harper Books).
O autor é Neil McCormick, crítico do Daily Telegraph, que foi amigo de escola dos irlandeses (assim como o designer do volume, Steve Averill, que produziu seu primeiro pôster em 1977). A fórmula é a mesma do livro dos Beatles, com seqüência árdua de 150 horas de entrevistas pingue-pongue.


Quando uma banda desse porte abre seu baú, pintam fotos raras, documentos, entrevistas.

Mas, revelações? Nananina. É quase como um pronunciamento em cadeia nacional. 'Em 1975, quatro adolescentes que estudavam na escola Mount Temple, em Dublin, Irlanda, encontraram-se numa cozinha apertada para formação de uma banda. O kit de bateria quase não cabia no lugar, o guitarrista tocava uma guitarra feita em casa, o baixista não sabia tocar e ninguém queria cantar.

Cerca de 30 anos depois, Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. ainda estão juntos, ligados por profunda lealdade, apaixonado idealismo e incansável crença no poder do rock and roll de mudar o mundo.' Mas calma, nem tudo é Diário Oficial. Como foram abertas as porteiras dos arquivos privados de cada um dos U2, tem muita coisa bacana para fãs e amantes da música. 'Às vezes pode parecer que entrei no U2 para salvar o mundo. Entrei no U2 para salvar a mim mesmo. Encontro pessoas nas ruas que me abordam como se eu fosse o Mahatma Gandhi', diz Bono.

Há um grande esforço para baixar das nuvens a imagem de pop stars que os rapazes do U2 carregam. Vêm à tona, por exemplo, momentos dolorosos, como a necessidade de enterrar o pai de Bono, Bob Hewson, às vésperas de um concerto para 180 mil pessoas em Salen Castle. 'As canções empurravam minha cabeça acima da superfície da água', conta Bono.

A sinceridade parece suplantar a tendência para o maniqueísmo. Por exemplo: quando Bono se encontrou com George W. Bush em 14 de março de 2002, pedindo uma ajuda extra de US$ 5 bilhões para a África, ambos caminharam juntos à frente de um batalhão de fotógrafos. 'Mantive uma cara séria, mas fiz um sinal de paz & amor quando passamos pelos fotógrafos. Bush murmurou entre dentes: ´Haverá uma manchete em algum lugar: rock star irlandês com texano tóxico´.
Bush é na verdade um cara engraçado', conta Bono.

O cantor ainda fala sobre sua luta pela África. Na primeira vez que foi ao continente, em 1986, disse que teve o insight de que a fome era estrutural, não uma calamidade natural. 'Corrupção era um grande problema, obviamente, com líderes corruptos e ditadores que estavam indo para o terceiro ou quarto mandatos e ignorando seu povo.' O livro traz os músicos em todas as fases da vida, de moleques a quarentões, e fotos engraçadas, como o papa João Paulo II usando os óculos de Bono, em setembro de 1999.