Outras estréias da semana nas telonas

Entreatos desvenda bastidores da campanha de Lula
Os bastidores da campanha que levou Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência formam o centro nervoso de Entreatos, documentário de João Moreira Salles. O filme se destaca por não mostrar o óbvio. Ao invés do Lula dos comícios, a câmera (muitas vezes manejada pelo próprio diretor de fotografia, Walter Carvalho) o acompanha sempre em espaços pequenos, em salas e quartos de hotéis, estúdios de TV e na poltrona de jatinhos.
É o máximo de intimidade que se poderia esperar na filmagem de um candidato ao mais alto cargo do país. Uma intimidade que é claramente limitada - nem sempre a filmagem foi admitida nas reuniões da campanha, como mostra a imagem de uma porta fechada, ainda que educadamente, diante do cinegrafista. A postura de Salles é, portanto, transparente - nem tudo foi visto nem ouvido, o que existe são fragmentos. Seu valor está no fato de que são fragmentos raros.

Peões traz operários anônimos que conheceram Lula
Em uma época tão obcecada pelas celebridades, o documentário Peões cultiva corajosamente sua fidelidade incondicional aos anônimos, a quem o diretor Eduardo Coutinho prefere chamar de "pessoas comuns". O filme foi feito pouco antes da vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2002.
Falando das greves dos metalúrgicos do ABC, em 1979 e 1980, Coutinho escapa mais uma vez pela tangente, escolhendo os ex-grevistas que não se instalaram nas diretorias sindicais, prefeituras e partidos políticos. Prefere aqueles que continuaram sendo trabalhadores simplesmente, em vidas que deram reviravoltas, com o retorno à terra de origem, no Ceará, ou o risco de um sonho, como do pequeno empresário Miguel do Forró, que saiu da fábrica e abriu um salão de danças. Em suma, filma os pequenos que escolheram ser pequenos ou não puderam deixar de sê-lo.

Patrão e secretária dividem solidão no uruguaio Whisky
Filme de ritmo lento, o uruguaio Whisky, dirigido por Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, dá a impressão de que poderia ter se beneficiado de algumas pequenas doses da bebida titular. Aparentemente, porém, o título se deve à palavra que os fotógrafos no Uruguai pedem às pessoas que digam para a câmera.
Mas são poucos os sorrisos suscitados por esta história sobre o envelhecido dono de uma fábrica de meias, Jacobo Koller (Andres Pazos), que pede a sua secretária, Marta (Mirella Pascual), que se faça passar por sua esposa, enquanto recebe a visita de seu irmão Herman (Jorge Bolani), que vive no Brasil e com quem ele não tinha contato havia muito tempo. O filme trata com algum carinho esses três personagens profundamente solitários, que vivem com dignidade, criando um pouco de humor brando a partir de seus hábitos esquisitos.

Viagem do Coração mistura personagens na Paris de 1940
O diretor Jean-Paul Rappeneau se destaca pelos longos períodos que passa sem filmar. Desde Cyrano de Bergerac, de 1990, ele tinha feito apenas um outro, O Cavaleiro do Telhado e a Dama das Sombras, em 1995. Seu trabalho mais recente, Viagem do Coração é fruto de oito anos de preparativos meticulosos.
Trata-se de um filme de realização belíssima, com elenco repleto de grandes nomes, dirigido com um toque que é o mais leve possível. Rappeneau nos conduz de volta aos anos 1940 para narrar a história de uma atriz obcecada por si mesma (Isabelle Adjani), um ministro de governo ambicioso (Gerard Depardieu), uma estudante ardente (Virginie Ledoyen) e um escritor apaixonado (Gregory Derangère).