'Era Schumacher' chega ao final com título de Alonso
Acostumado a recordes, Fernando Alonso conquistou mais um neste domingo. E foi no Brasil, terra de vencedores, mas que nunca havia visto a confirmação de um título mundial. Nunca a F-1 conheceu um campeão tão jovem. E o primeiro espanhol.

A todo início de temporada de F-1 a pergunta se repetia. "E aí, tem alguém que pode superar o Schumacher?". Poucos respondiam. Alguns arriscavam uns nomes, todos em vão. Neste ano, finalmente, a pergunta teve resposta. A cada corrida, ela se aproximava, mas foi no Grande Prêmio do Brasil que Fernando Alonso se tornou o homem que desbancou o heptacampeão mundial e roubou-lhe o cetro da principal categoria do automobilismo. Mais do que isso, se tornou o mais jovem e o primeiro campeão mundial nascido na Espanha - antes de Alonso, que tem 24 anos e 56 dias, Emerson Fittipaldi tinha sido o mais jovem a ser campeão na F-1 com 25 anos, oito meses e 29 dias.

O título poderia ter vindo na última prova, na Bélgica, mas acabou concretizado em Interlagos, circuito pelo qual já passaram verdadeiras lendas da velocidade, mas que nunca havia assistido à consagração de um campeão. O título, que já vinha sendo desenhado desde o início arrasador da Renault em 2005, começou a ganhar cores no sábado, com a pole position. No domingo, Alonso não conseguiu manter a liderança da prova mas, com uma performance segura, manteve-se entre os três primeiros na maior parte da corrida. Terminando em terceiro, garantiu os pontos necessários para não ser mais alcançado até o fim da temporada. Com isso, ele lapidou os traços finais e passou a figurar na galeria de campeões mundiais de Fórmula 1. (leia mais sobre a prova)

A carreira do espanhol não foi muito diferente das de outros pilotos que almejam competir na elite do automobilismo. Do kart, passou à F-3000 em 2000, espécie de "vestibular" para a F-1. Não teve grande sucesso, mas venceu a última etapa do ano, em Spa-Francorchamps, colocando 15 segundos de vantagem sobre o brasileiro Bruno Junqueira, já garantido como campeão da categoria.

Ao término da prova, o então adolescente de 19 anos, nascido em Oviedo, no norte da Espanha, revelou qual era o seu sonho. "Quero estar na F-1 no ano que vem". E foi isso que aconteceu, mas não da forma como ele esperava. Disputou a temporada 2001 com a frágil Minardi e não pontuou em nenhuma prova.

A campanha fez com que o promissor espanhol fosse "rebaixado" a piloto de testes na temporada seguinte, na então Benetton (que usava motores Renault e seria vendida para a fabricante francesa, mas apenas rebatizada em 2002). Sob a batuta de Flavio Briatore, diretor da equipe, desenvolveu suas habilidades com o carro com o qual viria a ser campeão.

O ano de testes fez com que Alonso amadurecesse e voltasse a ser titular em 2003, já pela Renault. Conquistou seus primeiros dois pontos na primeira prova, com o sétimo lugar na Austrália, mas viu a virada em sua carreira acontecer na etapa seguinte, na Malásia. "Esta pole foi muito importante. Melhor ainda que o pódio. Foi o princípio, um momento emocionante", conta, em seu site oficial.

No dia 24 de agosto do mesmo ano, se tornava o piloto mais jovem a vencer na F-1. Aos 22 anos e 26 dias, largou na frente e subiu ao lugar mais alto no pódio em Hungaroring. Mais do que isso, foi o primeiro espanhol a vencer, além de quebrar um jejum de vitórias da Renault da categoria desde 1983. "A vitória na Hungria teve mais importância, mas, na Malásia demonstrei que era um dos grandes. Subir e, na segunda corrida, dizer que estou aqui. Passei a fazer parte do clube dos grandes", relembrou.

E Alonso tinha razão. Em 2004, passou de aplicado a temido. Foi pole no GP da França, quando chegou em segundo. Ainda acabou em terceiro Austrália, Alemanha e Hungria, mas assistiu, assim como todos os demais competidores, à um "passeio" da Ferrari, que venceu 15 das 18 provas e garantiu o heptacampeonato para o alemão Michael Schumacher.

Assim, restou pouco espaço para o espanhol se destacar, que terminou em quarto, perdendo apenas para as Ferraris (o brasileiro Rubens Barrichello foi o vice) e para a BAR do britânico Jenson Button, único que demonstrou performance suficiente para tentar brigar com a escuderia italiana.

Os ferraristas já esperavam pela repetição do domínio em 2005, mas, dessa vez, quem roubou a cena foi a Renault e, claro, Alonso. A equipe ganhou as quatro primeiras corridas, com três conquistas do espanhol. E tudo parecia conspirar a seu favor. A Ferrari sofria e não conseguia se acertar. A Williams, com nova dupla de pilotos, não conseguia bons resultados. A McLaren quebrava demais e depois se ajeitou, principalmente com o finlandês Kimi Raikkonen, mas acordou tarde demais para brigar pelo título. Mostrou que tinha o carro mais veloz, mas não tão bom quanto o de Alonso.

Com um começo de temporada arrasador (quatro vitórias em sete corridas), ele disparou na ponta e não foi mais alcançado. No total, foram cinco poles (Malásia, Bahrein, França, Inglaterra e Brasil) e seis vitórias (Malásia, Bahrein, San Marino, Europa, França e Alemanha). Sua pior posição no grid foi um 13º lugar, na estréia, na Austrália, mas se recuperou e acabou em terceiro na prova. Primou, sim, pela regularidade: não completou apenas três GPs, Canadá, EUA e Hungria.

Nove anos, dois meses e 14 dias depois do título no kart, Alonso, que sonhava em correr na F-1, se tornou o principal nome da categoria. A dúvida se existia alguém que pode superar Schumacher já foi tirada, e o espanhol, como já previa, está entre os grandes. Resta agora saber se ele será o novo "rei" da categoria. Mas, antes disso, ainda tem festa. Em Oviedo, sua terra-natal. E nas pistas de Japão e, finalmente, China, onde receberá, o troféu mais importante de sua galeria.