Por: Ronaldo Hung



 
 
Semana dominada pelo novo longa de Tom Cruise e a versão carne-e-osso de Mortadelo & Salaminho (aqueles dos quadrinhos), além de uma produção nacional

MORTADELO E SALAMINHO – AGENTES QUASE SECRETOS (La Gran Aventura de Mortadelo y Filemón, Espanha/2003)
Personagens clássicos dos quadrinhos espanhóis, a dupla atrapalhada formada por Mortadelo & Salaminho já é velha conhecida dos brasileiros. Criada por Francisco Ibáñez há 45 anos (comemorados com o lançamento, em 2003, deste filme), são dois agentes secretos de uma agência chamada T.I.A (Técnica em Informações Avançadas). Os quadrinhos eram muito engraçados (com situações inusitadas e muito besterol) e fizeram sucesso em diversos países, como Itália, Alemanha e Holanda. No Brasil, foram publicados pela RGE e até ganharam álbuns especiais.

Esta produção tem em seu currículo 5 prêmios Goya (o Oscar espanhol), nas seguintes categorias: Maquiagem, Edição, Desenho de Produção, Direção de Artes e, ufa, Efeitos Especiais. Teve ainda uma indicação para Melhor Figurino. Ou seja, não foram poupados esforços na transposição dos personagens para as telas.

A estória é basicamente uma gozação com fitas de espionagem: o roubo de uma arma secreta e as trapalhadas dos personagens (vividos por Benito Pocino e Pepe Viyuela) para recuperá-la. Muito humor non-sense, a suficiente dose de ação. Tudo em ritmo de gibi. Um prato cheio para os saudosistas de plantão, é uma boa pedida para a semana.

PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO... E PRIMAVERA(Spring, Summer, Fall, Winter...and Spring, Alemanha e Coréia do Sul/2003)
O diretor sul-coreano Kim Ki-duk, autor de vários filmes movidos a violência, descreve uma reviravolta total em Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera. O filme, uma co-produção sul-coreana/alemã, é um poema sobre a mudança das estações e uma meditação sobre o ciclo da vida. A história se passa em um ambiente tranqüilo e atemporal de um templo que flutua sobre um lago, criado pelo homem no meio de uma floresta, cercado por picos montanhosos que isolam o mosteiro das preocupações mundanas.

Lá, um velho monge ensina a sabedoria de Buda a seu jovem discípulo, ao longo das muitas estações de suas vidas. O diretor infunde os episódios de princípios budistas, que ensinam a bondade para com todas as formas de vida e a meta da paz interior. Apesar disso, porém, o mundo acaba penetrando dentro da ermida serena, levando consigo os prazeres e as dores da vida.

COLATERAL (Collateral, EUA/2004)
A dobradinha Spielberg & Cruise, que já rendeu a ficção “Minority Report”, está de volta. A Dreamworks produziu este filme, dirigido por Michael Mann, onde Tom Cruise experimenta o papel de vilão (o ator chegou a adiar as filmagens de “Missão Impossível 3”, que só deve sair mesmo em 2005, e parece que a escolha inicial seria Russel Crowe, que concorreu ao Oscar quando trabalhou com o diretor em “O Informante”). Ele faz um matador de aluguel, que toma como refém um motorista de táxi (Jamie Foxx) para completar um serviço em Los Angeles (cinco assassinatos em uma só noite).

A relação entre os esses dois personagens norteia a produção, numa espécie de jogo de gato-e-rato psicológico. Os dois personagens, completamente opostos, em muitas cenas colocam em foco as suas frustrações. O diretor Mann optou por utilizar câmeras digitais na maior parte das cenas. O filme, aliás, é noturno, o que ajuda a criar a atmosfera, e o resultado é diferente do convencional. Mas a produção tem suspense, a dose certa de ação e prende a atenção. Uma diversão competente. No elenco, Mark Ruffalo (que parece estar em tudo que é filme ultimamente) e a presença de Jada Pinkett Smith, a Sra. Will Smith, com quem o diretor rodou “Ali”, sobre o boxeador Muhammad Ali, e rendeu também ao ator uma indicação ao Oscar.

Mais uma prova que Tom Cruise sabe conduzir bem a sua carreira, “Colateral” é um thriller competente e merece ser conferido. Em tempo, Spielberg & Cruise deverão estar unindos forças novamente com a refilmagem de “Guerra dos Mundos”, com roteiro de David Koepp (de “Homem-Aranha”).

GAROTAS DO ABC (Brasil, 2004)
Produção nacional dirigida por Carlos Reichenbach, famoso diretor da época da chamada “boca do lixo” (lá pelos anos 70), fitas que depois foram sendo exibidas na televisão, nas sessões noturnas proibidas para menores. São dele produções como “A Ilha dos Prazeres Proibidos” (de 1979, com Neide Ribeiro e Zilda Mayo), “Império do Desejo” (de 1980, com Aldine Muller) e “O Bandido da Luz Vermelha” (de 1968, com Sonia Braga), entre tantas outras. Importante retrato de uma época, essas produções representavam um pouco do que havia em termos de erotismo nas telas.

De volta ao circuito, esse seu trabalho (ele também é responsável pelo roteiro) acompanha a vida de amigas operárias do ABC paulista (as atrizes Michelle Valle, Natália Lorda e Vanessa Alves). Mistura relações casuais (brigas de namorados), questões sociais (sindicalismo), e até ironia ao cinema (uma das garotas é fã de Arnold Schwarzeneger!). No elenco Selton Mello (em divertida participação)e a cantora Fafá de Belém (que faz a dona de um clube noturno).