Franz Ferdinand, a festa que antecede a catarse

Antes da provável catarse do U2, há (pouco) tempo e espaço para o bom dance-rock do Franz Ferdinand. O quarteto escocês só vai fazer seu show completo na quinta-feira no Circo Voador, na Lapa carioca, mas em 40 minutos deve condensar o melhor de seus dois primeiros álbuns, Franz Ferdinand (2004) e
You Could Have It so much Better (2005), lançados no Brasil pela Trama.

Tudo bem que já está todo mundo saturado de Do You Want To (o primeiro single/ hit do CD mais recente), mas não dá para dispensar a boa oportunidade de ouvir/dançar isso ao vivo no meio de mais 70 mil pessoas. O estilo cool desses conterrâneos do Belle & Sebastian pega melhor num clubinho com pista e como o de outras bandas indie não muito adequadas a arenas, tende a se dispersar em grandes ambientes, mas o Morumbi deve ser um bom teste para seu cacife sonoro.

Já houve quem tivesse apontado o Franz como o 'melhor The Stranglers' do momento, referência à tendência das novas bandas em soar como outras antigas e até extintas, mesmo que só toquem músicas novas. Nas canções do Franz há referências explícitas, como The Cure, David Bowie, The Clash, Beatles (em Eleanor Put Your Boots on), Madness ('You´re the Reason, I´m Leaving') e até The Strokes, como também ocultas.
Em entrevista ao Estado, o baixista Bob Hardy revelou que Walk Away, uma das melhores faixas de You Could Have... faz citação (imperceptível, convenhamos) de Hall of Mirrors, do Kraftwerk. De qualquer maneira, como disse Hardy, o Franz pode não revolucionar nada, mas acumula um número invejável de boas canções em apenas dois álbuns. É tudo o que eles querem deixar para o futuro, além de se divertir nas viagens com os shows.

Como uma infinidade de bandas que infestam porões e garagens do Reino Unido, o Franz Ferdinand passou a ser badalado tão logo surgiu em 2001, em Glasgow, na Escócia.
Diz a lenda que Bob Hardy (ele confirma) decidiu criar a banda na cozinha da sua casa com o vocalista e guitarrista Alex Kapranos. Depois chamaram Nick MacCarthy (guitarra) e Paul Thomson (bateria). De uma hora para a outra, os quatro viraram a sensação do momento, acumulando prêmios e ganhando popularidade com o hit Take me out (carro-chefe do primeiro álbum), que surpreendia pelas variações de ritmo e andamento e também contava com o apelo homoerótico. Eles também não levantam bandeira nenhuma, seja sexual, política ou social. Bem diferentes do que os fãs do U2 cultuam, pendem mais para a tendência festeira e inconseqüente do rock, com combustível suficiente e autonomia de vôo.